A fábula dos métodos ou “da rolha pedagógica”

Precisamos de um “método” de ensino?

 

Durante nosso curso de formação em ANL1, fomos informados várias vezes que tínhamos que nos libertar dos “métodos” e também que tínhamos que entender a lógica da apropriação da linguagem em vez de tentar seguir fichas pedagógicas ou receitas prontas. Parece óbvio, no entanto, isso também requer muito mais envolvimento pedagógico. Nossas discussões me lembram essa fábula anônima, que me foi contada no Brasil e que gostaria de compartilhar com vocês hoje em francês (obrigado a Olivier por sua revisão).

 

A fábula dos métodos ou “da rolha pedagógica”

 

Era uma vez uma escola, como muitas no mundo, e uma professora. Como geralmente acontece, em todas as escolas do mundo, às vezes há visitantes nas salas de aula, chamados inspetores de educação, supervisores gerais, coordenadores de escolas ou simplesmente funcionários seniores.

 

Naquele dia, em nossa escola, foi um conselheiro pedagógico que visitou uma classe para ver um pouco como as coisas estavam indo diariamente. O cavalheiro atravessou o limiar da porta desta classe e, após as saudações habituais, rapidamente percebeu que a amável professora que o recebia passava o tempo todo parada atrás de sua mesa, que a atenção dos alunos estava em outro lugar, que alguns sonhavam acordados e muitos – a maioria deles para ser honesto – estavam conversando, em voz baixa, em um volume geral na sala que estava aumentando cada vez mais. A constatação era de que o caos estava instalado!

 

Nosso conselheiro, envergonhado, decidiu então intervir. No recreio, ele iniciou essa conversa com a professora em dificuldade:

– Você não teria problemas com essa aula? Você sabe que estou aqui para apoiá-la. Você sabe que estou aqui para apoiá-la.

– Oh! Senhor… Isso é terrível! Estou perdida … não sei o que fazer com esses alunos … Perceba: o Ministro da Educação não nos forneceu nenhum método! Não tenho livros, não tenho vídeos e nem recursos digitais … nada de novo para lhes apresentar. No fim das contas, eu nem sei o que lhes dizer!

 

O supervisor, que passou várias décadas nas aulas, revelou-se um professor expert, como se diz, e foi por isso que ele conseguiu seu cargo. Enquanto ouvia a professora explicar sua situação, ele notou uma rolha na mesa. Ele então convidou a professora a se acalmar, a se tranquilizar e, acima de tudo, a observar cuidadosamente o que ele iria mostrar a ela.

 

Após o recreio, os estudantes entraram em uma agitação infernal. O inspetor ficou no meio da sala de aula e, parecendo surpreso, pegou a rolha que estava sobre a mesa entre o polegar e o indicador. Ele questionou calmamente:

– Alguém sabe o que é isso?

A conversa parou. Todos os alunos olharam em sua direção. Então um deles disse:

– Bem, é uma rolha.

Os alunos ficaram um pouco surpresos com essa pergunta.

O inspetor continuou:

– Sim, com certeza. Mas quem poderia me dizer de onde veio?

Os alunos, envolvidos e levantando as mãos para poderem ser ouvidos antes dos outros. As respostas explodiram:

– De uma garrafa!

– De uma fábrica de rolhas!

– De uma árvore!

– Um pedaço de madeira!

… diziam as crianças entusiasmadas.

Então o conselheiro educacional continuou:

– Tudo isso é verdade. Porque existem muitas coisas que você pode fazer com a madeira. . Enfim, o que podemos realmente fazer com madeira?

A dinâmica continuou:

Cadeiras!

– Mesas!

Barcos!

– Ah sim! Ah sim! É interessante, adoro viajar, respondeu o conselheiro. Um barco me inspira muito. Quem gostaria de desenhar o barco da classe no quadro?

Ele continuou :

-E quem nos dirá onde é o porto mais próximo ao nosso barco?

De fato, você está certo … E quem poderá especificar em qual estado este porto está localizado?

Vocês também sabem quais outros portos estão próximos?

Alguém se lembra de uma personalidade que morava nesta cidade portuária?

– Ah sim! Isso mesmo. Mas quem era realmente essa pessoa, o que a tornava notável?

– Havia outras pessoas famosas que moravam lá?

– É, vocês sabem muito, realmente, eu aprendo muito com vocês!

– E vocês se lembram do que produzimos neste estado?

– Pode haver uma música sobre esse estado, certo? Alguém conhece alguma? Alguém conhece alguma?

 

As crianças estavam completamente envolvidas. Eles ensinavam ao professor, estavam todos trabalhando juntos e haviam esquecido completamente que estavam … na sala de aula.

E assim ocorreu um curso rico e variado: desenho, geografia, história, música. Cada disciplina ligada uma à outra.

 

A professora ficou impressionada com a demonstração do conselheiro. Ela agradeceu-lhe calorosamente:

– Muito obrigado, senhor! Eu aprendi muito com você hoje. Eu seguirei o seu exemplo.

 

Então o tempo passou, os dias, as estações, um ano escolar. O conselheiro queria medir a pequena semente educacional que havia plantado e voltou à escola para ver essa professora novamente. No entanto, lá, ele a encontrou novamente presa atrás de sua mesa e seus alunos conversando …

– Mas, querida senhora, o que está acontecendo O que é que há?

– Oh! Oh! Senhor conselheiro pedagógico, finalmente o senhor voltou! Eu estive esperando por você por dias e dias! Não consigo mais encontrar a rolha! Por favor me diga onde o senhor a deixou!

 

Moral da história: quando você não tem um método, é melhor ter uma boa rolha!

 

Maria do Carmo Reali

Professora de francês língua estrangeira

São Paulo, Brasil

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